sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O esforço de falar espanhol.

Quando em 2010 deixei Espanha pela primeira vez e rumei a Portugal ia cheia de sonhos e expectativas que aos poucos e poucos se foram desvanecendo. Mas lembro-me de pensar vezes sem conta em como era maravilhoso poder ir passar todos os fins de semana que quisesse a casa, de como era maravilhoso percorrer as prateleiras dos supermercados cheias de produtos nossos e de como era verdadeiramente maravilhoso poder falar a minha língua materna. E pensei isto várias vezes. Vezes sem conta. O dia podia ter corrido mal, mas eu pensava sempre nestes três pontos e concordava sempre que, se calhar, não tinha sido assim tão mau.

Curiosamente, já estou, apesar de tudo, habituada aos dois primeiros, mas não consigo habituar-me ao terceiro. Não me basta ir a um jantar de portugueses e falar um bocado em português, não me basta ir tomar algo com uma amiga portuguesa, não me basta ver filmes ou séries com legendas em português e não me basta falar de vez em quando com a minha familia. Sinto muita falta, mas mesmo muita falta de poder expressar-me na minha língua. Talvez seja um problema meu, mas a realidade é que apesar do espanhol ser a minha segunda lingua e do falar praticamente em modo automático, quando tenho de explicar algo com mais pormenores e que sai do "normal", penso sempre no quão difícil é isto de ser emigrante.

É um esforço continuo que se faz tanto para entender como para falar. Um esforço contínuo poder meter de lado a lingua materna e obrigar o nosso cérebro a ouvir e falar outra, custe o que custar. Um esforço que ninguém sequer consegue pensar que existe. 
Mas existe, só que ninguém fala dele, não sei bem porquê.

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